sábado, 21 de dezembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DE MAQUIAVEL


A IMPORTÂNCIA DE MAQUIAVEL
                Juliana Resende

  
1 – A vida de Nicolau Maquiavel:

Nascido em Florença no dia 3 de maio de 1469, Nicolau Maquiavel pertencia à alta burguesia florentina. Filho de advogado, recebeu do pai razoável educação nas chamadas ciências humanas, tão ao gosto do Renascimento, fato que explica sua profunda familiaridade com a história greco-romana. A partir de uma formação privilegiada, com 29 anos Maquiavel começa a exercer um cargo público de destaque, como Secretário da Segunda Chancelaria do Estado.
            Até 1513, data da volta dos Médicis à Florença, Maquiavel trabalhou na administração do Estado, onde adquiriu não só familiaridade com o funcionamento do jogo político, como também buscou compor uma milícia nacional, que liberasse Florença da incômoda necessidade dos mercenários, que com suas tropas infestavam todo o território italiano.
Conforme dissemos, Maquiavel viveu num período especialíssimo da cultura ocidental, denominado de Renascença, que consistiu num vigoroso movimento cultural de retorno aos filósofos gregos e romanos. Quer dizer, lembremo-nos que o impulso a antiguidade não se deu apenas, como é mais frequentemente lembrado, no campo das artes plásticas, implicando também em completa reformulação da própria visão de mundo do homem europeu. Ora, a crítica a visão de mundo medieval trazia implícito um movimento de cansaço e desencanto para com as antigas compreensões do homem e da política, fato este que suscitou importantes mudanças, como vemos com Maquiavel.





2 – A busca pela verdade efetiva das coisas:

A questão principal para Maquiavel se encontra na ruptura que o autor traz no que diz respeito a política e a moral, isto é, Maquiavel rompe com a noção de que toda ação deve levar em consideração a moralidade que tomamos. Vale dizer, em outras palavras, que o agir político não está subordinada a questões éticas, daí a própria ideia da busca pela verdade efetiva das coisas.
Com isso, podemos identificar o primeiro ponto de ruptura relevante entre o pensamento de Maquiavel e a tradição intelectual existente até então. Com efeito, ao restringir-se somente ao exame dos fatos concretos, realmente observáveis na ação política, seja na Itália renascentista, seja no atual cenário político brasileiro, Maquiavel busca analisar de maneira objetiva como se dá o jogo político.
Poder-se dizer, portanto, que Maquiavel adota um procedimento quase cientifico, no sentido de que, através da observação dos atores políticos de seu tempo, ele expõe como funciona o jogo político. É claro, contudo, que o simples cálculo racional não é suficiente, por si só, para caracterizar o funcionamento do Estado maquiaveliano.
Se é que podemos resumir sua obra, o mérito de Maquiavel encontra-se na maneira como ele concebe o Estado; quer dizer, o ponto central parte da ideia da completa autonomia do Estado, tanto no plano externo, quanto no plano interno, de maneira que a busca pela estabilidade política não encontre obstáculos de ordem ética ou de qualquer espécie para sua realização plena.
A questão da autonomia do Estado e da política, se encarada pelo viés de Maquiavel, nos remeteria à prioridade da política sobre a moral, isto é, que o Estado, por sua própria natureza, não pode se vir impedido por quaisquer considerações de natureza ética, seja no plano internacional ou nacional, sob pena de sacrificar a tão almejada estabilidade política. O objetivo primordial do Estado deverá, portanto, pautar-se apenas pelo cálculo racional, despido de qualquer ideia de moralidade.
            Mas uma vez reconhecido a importância da ação política no Estado, aonde tal consideração nos levaria? Ou seja, até onde pode o Estado quando o assunto é a estabilidade política? Um indício de resposta para tal questão encontra-se no capítulo XV do “Príncipe”, no qual o autor nos fala sobre a maneira como devem os príncipes manter a palavra dada.
Para Maquiavel, a justificação torna-se desnecessária quando estamos falando nos interesses do Estado, mostrando-se apenas um problema quando comparamos a racionalidade expressa em sua obra, mais especificamente O Príncipe, com alguma convicção moral, ética ou religiosa. Em Maquiavel, a ideia de Estado parece carregar um fim em si mesmo, onde o objetivo a ser atingido consiste em sua preservação e continuidade.
Na verdade, ao restringir-se ao exame dos fatos concretos, analisando-os de maneira objetiva, a partir da experiência da coisa moderna, associada a assídua lição dos antigos, Maquiavel percebe que uma sociedade totalmente imersa na paz é talvez a ficção de mentes utópicas e não o espelho da natureza humana.
Nesse sentido, a novidade não é apenas a afirmação da maldade humana, mas sim a afirmação de que a natureza humana não é o maior dos empecilhos para criação de instituições boas. Para Maquiavel, o direito faz parte da herança humana e o Estado é a representação da vontade coletiva, de modo que sua função é a de proteger as leis, que, por sua vez, devem proteger os interesses da coletividade.
Ao pensar a cisão entre moral e política, Maquiavel não propõe que toda sorte de maldades possa ser usada por políticos, como vemos no Brasil ou mais especificamente no Rio de Janeiro. A estabilidade do Estado precisa que os políticos ajam ocasioanalmente de maneira ‘‘maldosa’’, mas isto não pode ser uma regra para ação política. Resta saber, é claro, até que ponto os políticos (príncipes) podem agir. Maquiavel, contudo, não busca responder a esse tipo de indagação, mas propõe uma separação entre a ação política e a moral, daí a importância do trecho no qual ele expõe de maneira clara o seu projeto filosófico:

Capítulo XV – As qualidades pelas quais os homens, sobretudo os príncipes, são louvados ou vituperados.

“1. Resta examinar como deve um príncipe tratar os seus súditos ou aos seus amigos. Como sei que muitos escreveram sobre este assunto, creio que serei considerado presunçoso, sobretudo porque discordei da opinião dos outros. Mas como tenho a intenção de escrever algo útil para quem a queira entender, pareceu-me conveniente ir atrás da verdade efetiva da coisa, em vez da imaginação. Muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca se viu nem se soube que fossem verdadeiros por serem tão diversos de como se vive para como se deveria viver. Aquele que deixa o que se faz pelo que se deveria fazer aprende a se arruinar em vez de se preservar. Pois o homem que queira professar o bem por toda parte é natural que se arruine entre tantos que não são bons. Para um príncipe é necessário, querendo se manter, aprender a poder ser não bom e usar ou não usar isso, conforme precisar.
2. Deixando de lado as fantasias sobre um príncipe e discorrendo sobre a realidade, digo que todos os homens, sobretudo os príncipes, por estarem em um nível mais alto, são notados por algumas qualidades que lhe acarretam censura ou louvor. Há quem seja considerado generoso, outro miserável; um capaz de doar, outro roubar; um cruel, outro piedoso; um traidor, outro fiel; um humano, outro soberbo; um lascivo, outro casto; um franco, outro astuto; um rigoroso, outro benevolente; um severo, outro superficial; um religioso, outro incrédulo; e assim por diante.
3. Sei que todos confessarão que seria extremamente louvável para um príncipe possuir, de todas as qualidades acima descritas, as que são consideradas boas. Mas como todas não se podem ter nem observá-las por completo, pois a condição humana não o permite, é necessário ser prudente e saber fugir à infâmia dos vícios que podem lhe tirar o Estado. É prudente evitar também os que não lhe tirariam, se fosse possível, do contrário, pode-se entregar a eles sem muito temor. O príncipe não deve se importar com com se expor à infâmia dos vícios sem os quais seria difícil salvar o poder. Porque, considerando-se bem tudo, há coisas que parecem virtude e acarretam a ruína, outras que parecem vício e, com elas, obtêm-se a segurança e o bem-estar.” (Maquiavel, Nicolau/ O príncipe, pág 77, 78)


Forma de avaliação:
A partir do texto lido em sala e da exposição oral das ideias de Maquiavel em “O príncipe.”; propor aos alunos que façam uma espécie de tribunal, dividindo a turma em dois grupos onde um grupo ficaria responsável pela defesa do uso das armas (violência) a partir do poder do Estado; e o outro grupo ficaria responsável pela acusação do mesmo. O intuito da atividade/dinâmica não é necessariamente que haja um grupo vencedor, e sim a partir da observação do professor perceber se os alunos argumentarão de acordo com as ideias expostas em sala de aula fazendo sempre uma ponte com atuais acontecimentos e se utilizando de exemplos cotidianos para dar melhor ênfase ao assunto tratado em aula.



Indicação de filmes/séries de Tv/música -
Séries de Tv: Os Bórgias – A série é baseada na história da Família Bórgia, uma dinastia italiana e origem espanhola, que se tornou proeminente durante o Renascimento e que geralmente é lembrada pelo governo corrupto e pela acusação de ter cometido vários crime, incluindo adultério, roubo, estupro, corrupção, incesto e assassinato (especialmente por envenenamento).

Músicas: Chico Buarque, Cálice (Que remete a questão da ditadura no Brasil entre 1964 a 1988).

Referencias bibliográficas:

DUVERNOY, J. F. Para compreender o pensamento de Maquiavel. Tradução de Suely Campos. Porto Alegre: L&PM Editores Ltda, 1984.
GARIN, Eugenio. Ciência e vida civil no Renascimento italiano; tradução de Cecília Prada. – São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe; tradução: Maria Lucia Cumo. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. – (Coleção leitura)



                Juliana Resende, discente do curso de licenciatura em Filosofia da UFRRJ.





O Ceticismo Pirrônico



O Ceticismo Pirrônico
Ícaro 
Há quem diga que o tempo em que vivemos é caracterizado, sobretudo, pela ausência de certezas. Um papo de que muitos dos alicerces que serviram de sustentáculo para nossas verdades e convicções, para nossa ética, conhecimento e cultura, já não servem mais, ruíram. E que agora, na atual conjuntura em que o mundo se encontra, em pleno século XXI, ficamos como que sem um solo muito firme para caminhar. Parece que, ao contrário de hoje, ontem, no velho mundo, sabíamos o que fazíamos, conhecíamos supostamente até mesmo os limites do próprio conhecimento. Até que, com o avanço da tecnologia e o conseqüente desenvolvimento da ciência e do pensamento, nos demos conta de que muita coisa não funcionava assim, da maneira como ingenuamente supúnhamos.
Porém, há gente que há muito tempo, cerca de XXII/ XXIII séculos atrás já havia desconfiado e denunciado a instabilidade e a ausência de apoio sob a qual as supostas verdades e conhecimentos humanos se estruturavam e se desenvolviam. Tais pensadores são chamados de céticos, uma corrente filosófica que gerou muita polêmica na antiga Grécia, e também na história da filosofia.
Há mais de uma versão acerca da origem do ceticismo, mas sabemos que ela está associada à figura de Pirro de Élis (365 – 275 a. C.). Pirro dedicou-se, no período de sua juventude, à pintura. Porém logo passou a ocupar-se com filosofia. Pirro nada escreveu, por isso sabemos pouco sobre sua vida, o que nos chegou foram escritos de alguns discípulos, e o testemunhos de Diógenes de Laércio (fazer janela).
De acordo com esses registros, Pirro participou da expedição de Alexandre ao Oriente, onde teria tido contato com uma grande diversidade de hábitos, crenças, valores, e pensamentos. O testemunho de Diógenes afirma que Pirro, nesta expedição ao oriente, teria conhecido certos sábios indianos, os gimnosofistas, que se dedicavam à superação das necessidades humanas, visando atingir uma indiferença suprema às coisas, e a imperturbabilidade de espírito. Segundo Diógenes, o contato com esse tipo de pensamento foi extremamente marcante para o filósofo, e teve influência direta na formulação de seu próprio pensamento. Daí teria derivado a concepção pirrônica de akatalexia, a incompreensibilidade, ou irrepresentabilidade das coisas.
Conta-se que Pirro, com sua doutrina fundamentada na akalexia, tinha uma pretensão exclusivamente ética: visava à conquista da felicidade. Sua doutrina tinha por finalidade conduzir à vida feliz. O filósofo pensava que era a felicidade o objetivo da vida humana.
Com suas idéias e doutrinas, Pirro atraiu muitos discípulos, que mesmo após sua morte, continuaram a desenvolver e pregar suas idéias, que destoavam bastante das filosofias presentes na Grécia, e causavam forte polêmica. Enesidemo, no século I d. C., intitulava-se seguidor do velho Pirro, e começou um movimento o qual denominou Sképsis, termo que significa ‘reflexão, observação, exame’, mas que posteriormente passou a traduzir-se por ceticismo. E os partidários deste movimento filosófico foram chamados de céticos.
Correntes filosóficas muito cultuadas entre os gregos, como o platonismo e o aristotelismo, foram fortemente atacadas pelos céticos, que as julgavam dogmáticas, por sua pretensão ao estabelecimento de juízos objetivos acerca da realidade. Por meio da dialética (fazer uma janela), método muito caro aos filósofos antigos, os céticos cunhavam dois argumentos contraditórios e equivalentes que chegavam a conclusões absolutamente opostas acerca do mesmo problema. Eram as chamadas antinomias. Essa prática era utilizada com a finalidade de mostrar que é impossível provar algo por meio de argumentos, pois a tese contrária também pode ser provada.
Um expressivo representante do ceticismo pirrônico foi Sexto Empírico (data), que organizou uma lista onde se encontram 10 célebres argumentos céticos, que ficaram conhecidos como os dez argumentos contra a verdade, ou, Hipotiposes Pirrônicas.  Desta lista, pelo menos 5 deles encontram-se disponíveis abaixo, para que possamos pensar questões que, há pelo menos dois milênios permanecem absolutamente pertinentes e atuais.


O primeiro tropo refere-se à diferença entre seres vivos no que diz respeito ao prazer e à dor, ao dano e à utilidade. Daí se deduz que eles não recebem as mesmas impressões dos mesmos sujeitos e que, portanto, tal conflito gera necessariamente a epoché, a suspensão do juízo.
Alguns dos seres vivos se reproduzem sem mistura, como aqueles que vivem no fogo, a fênix e os vermes; outros, por meio da união dos corpos, como os homens. Como alguns são constituídos de um modo, outros de modo diverso, também as suas sensações são diferentes. Assim, por exemplo, os falcões tem olhos acutíssimos, os cães te olfato finíssimo.
É lógico, portanto, que à diferença da faculdade visual corresponda a diferença das expressões. E se o talo para a cabra é comestível, para o homem é amargo; e se a codorniz alimenta-se da cicuta, esta é mortal para o homem; e se o porco como os excrementos, o cavalo não os come.
O segundo tropo refere-se a natureza e às idiossincrasias dos homens. Por exemplo, Demofonte, mordomo de Alexandre, aquecia-se à sombra, ao passo que ao sol sentia frio. Andron de Argos, como reporta Aristóteles, viajava pelos áridos desertos da Líbia sem beber.
Além disso há quem prefira cultivar a medicina, quem prefira cultivar os campos, quem prefira se dedicar ao comércio; e a mesma profissão traz danos a alguns e, a outros, vantagens; daí se conclui a necessidade de suspender o juízo.
            O terceiro tropo é determinado pela diferença dos poros que transmitem as sensações. Assim, a maçã dá a impressão de ser pálida à vista, doce ao paladar, perfumada ao olfato. E a mesma figura vê-se ora de um modo, ora de outro, segundo a diferença dos espelhos. Daí decorre que aquilo que aparece não corresponde a tal forma mais do que uma outra.
O quinto tropo é referente à educação, às leis, às crenças na tradição mítica, aos pactos entre o povo e às concepções dogmáticas. Ele envolve os pontos de vista sobre aquilo que é belo ou feio, verdadeiro ou falso, bom ou ruim, sobre os deuses, e sobre a formação e corrupção do mundo fenomênico. A mesma coisa para alguns é justa, para outros, injusta, ou ainda, para alguns é boa, para outros, ruim. Os persas não consideram estranha a união corporal com a filha; os gregos, ao contrário, reputam-na pecaminosa. Os massagetas, como relata também Eudoxo no primeiro livro de Volta da Terra, admitem a comunhão das mulheres, os gregos não a admitem. Os cilícios desfrutavam da pirataria, os gregos, não.
Cada povo crê nos seus deuses e há quem acredite na providência e quem não acredite. Os egípcios embalsamam os seus mortos antes de sepultá-los, os romanos cremam-nos e os peônios jogam-nos nos pântanos. A consequência é a suspensão do juízo sobre a verdade.
O nono tropo diz respeito à continuidade, ou à estranheza, ou à raridade dos fenômenos. Assim, os terremotos não provocam espanto àqueles junto aos quais ocorrem continuamente, e tampouco o sol, porque é visto todos os dias.


Interpretação:

A primeira vista, com tal argumentação, parece que os céticos nos colocam em situação demasiadamente embaraçosa. O desconforto que sua filosofia supostamente provoca é agudo e imediato.  A primeira pergunta que nos é conveniente pensar seria: o que os céticos pretendiam com tal argumentação? Nos dizer algo sobre a realidade das coisas, ou antes traçar os limites do conhecimento humano? Provar que o homem é incapaz de conhecer qualquer coisa, sendo a cognição uma tarefa impossível? Parece que não. Antes ainda de respondermos, consideremos com cautela um dos argumentos aqui expostos.
O primeiro argumento enfatiza a peculiaridade dos diferentes organismos presentes no mundo. Por apresentarem constituições orgânicas muito distintas e singulares, consequentemente os seres vivos manifestam diversas maneiras de sentir e perceber o mundo, e diferentes olhares e perspectivas sobre uma mesma coisa. Portanto seus juízos acerca das coisas não coincidem, mas são extremamente diferentes, opostos. Sendo assim, cada espécie tem uma relativa percepção da realidade, fornecendo juízos sempre relativos. Isso impede a viabilidade da instituição de um juízo universalmente válido e seguro. Por isso, a única saída possível é a epoché, a suspensão de tais juízos.
Os demais argumentos vão se configurar seguindo essa mesma lógica, são apresentadas razões que tornam inviáveis o estabelecimento de verdades absolutas, que apontam para a impossibilidade da obtenção de juízos universalmente válidos. E como consequência, a fim de evitar uma posição errônea, para não correr o risco de ficar preso no dogma, a atitude mais adequada a ser assumida seria a suspensão do juízo, um ato de neutralidade, o qual esses filósofos chamavam epoché.  Valendo-se de argumentos tais, os céticos colocam sob suspeita toda e qualquer afirmação que se pretenda verdadeira e universal sobre a realidade das coisas. Com isso o ceticismo pirrônico critica fortemente filosofias que, por meio do pensamento filosófico, julgavam conhecer a verdade, a realidade em si, a natureza e a essência das coisas.
            Essa radical atitude de assumir a ausência de certezas parece, à primeira vista, necessariamente implicar um certo sofrimento, uma angústia gerada pela instabilidade, pela ausência de apoio. Incerteza, dúvida, grosso modo, tem a ver com inquietação, perturbação. No entanto, ao propor a epoché, os céticos tinham a intenção exatamente contrária a esta.
            Em meio às diferenças e contradições concernentes aos seres, aos povos, às crenças e aos discursos, em meio ao embate de idéias, os céticos, tendo como instrumento a razão, encontravam na indiferença, na suspensão um lugar de tranqüilidade. Assumindo a posição de indiferença, de neutralidade, era possível encontrar a paz. Como uma luz gerada em meio ao caos, a epoché se apresenta como a saída para alcançar a imperturbabilidade, a ataraxia.
Nesse sentido, a ataraxia se constitui como estado de ausência de perturbação, de serenidade, de paz e indiferença, conquistado apenas por meio da epoché. Essa, na perspectiva cética, seria a via possível para atingir a eudaimonia, a vida feliz, tão desejada pelos gregos.
Portanto, a filosofia cética já na antiguidade, promoveu uma crítica da razão, fazendo a denúncia de pensamentos e sistemas que acreditavam determinar a realidade objetiva do mundo. Esforçando-se para livrar-se do dogmatismo, o pensamento cético almejava, em ultima instância, alcançar a imperturbabilidade e, consequentemente, a felicidade.

                                                                                                                                                                                                                                                                                           Exercícios
·         Explique os conceitos de ataraxia, eudaimonia, e epoché, situando-os e ralacionando-os, de acordo com o pensamento cético:

·         Explique o que eram as antinomias, e com que finalidade os céticos as praticavam:

·         Exponha dois argumentos, utilizados pelos céticos, para se chegar à suspensão do juízo:

·         O que pretendiam os céticos, em ultima instância, com a sua filosofia?

·         Você acredita ser possível conhecer a realidade em sua natureza, exatamente como ela é? Justifique sua resposta.

Proposta de Atividade:
Dividir a turma em dois grupos, e brincar de construir antinomias. O professor deve sugerir um problema, como por exemplo: Somos seres dotados de alma? E cada grupo deve tentar construir argumentos que dê duas respostas à questão, evidentemente opostas. O grupo que conseguir formular a melhor antinomia, a mais plausível, vence.

Sugestões de filmes:
O labirinto do Fauno
Alice no País das Maravilhas

Sugestões de músicas:
Metamorfose ambulante – Raul Seixas

Sugestão de poesia:

O Mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso, e que sabe a árvore?
E eu que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos
Aprenderam sozinhos:
As cousas não tem significação: tem existência
As cousas são o único sentido oculto das cousas.
                       Alberto Caeiro – heterônimo de Fernando Pessoa



Mundo como vontade e como representação - Schopenhauer



O Mundo Como Vontade e Representação - Schopenhauer 
Isis Tomas da Silva


Vida e Obra

Schopenhauer, conhecido como o filosofo do pessimismo, nasceu em Dantzig, no dia 22 de fevereiro de 1788.
Em 1793, com a anexação de Dantzig à Polônia, sua família mudou-se para Hamburgo, onde em 1805 seu pai veio a cometer suicídio.
Com a morte do patriarca da família, Schopenhauer e sua mãe mudaram-se para Weimar, porém o convívio entre os dois  era insustentável, piorando ainda mais quando Goethe, um escritor e amigo da família veio a dizer  a madame Schopenhauer que o filho se tornaria um homem muito famoso, acarretando uma briga mais séria onde sua mãe veio a empurra-lo escada abaixo, sendo que diante daquilo Schopenhauer cheio de amargor informou-a que a posteridade a conheceria somente através dele.
Schopenhauer deixou Weimar pouco depois e apesar de sua mãe ter vivido mais vinte e quatro anos, ele nunca mais a viu.
Enquanto isso, Schopenhauer passara pelo ginásio e pela universidade e aprendera mais do que o oferecido pelos currículos. Saiu de lá com uma infecção venérea que afetou seu caráter e sua filosofia. Tornou-se sombrio, cínico e desconfiado, era obcecado por temores e visões sinistras, mantinha os cachimbos trancados a cadeado, nunca entregou o pescoço à navalha de um barbeiro, dormia com pistolas carregadas ao lado da cama e não suportava barulho, ele escreve que a quantidade de ruído que alguém pode suportar sem se perturbar está na proporção inversa de sua capacidade mental e intelectual.
            Ele possuía um sentido quase que paranóico de grandeza não reconhecida, não alcançando a fama e o sucesso, voltou-se para dentro de si mesmo e roia sua própria alma.
Não tinha mãe, nem esposa, nem filhos, nem país. “Estava inteiramente sozinho, sem um único amigo.”
Já em 1813 ficou tão dominado pela influência do entusiasmo de Fichte por uma guerra de liberação contra Napoleão, mas ao invés  de partir para a guerra foi para o campo e escreveu uma tese de doutorado de Filosofia.
Após essa dissertação sobre A quádrupla razão do princípio de razão suficiente (1813),
Schopenhauer dedicou todo seu tempo e devotou todas suas forças ao livro que seria sua obra-prima — O Mundo Como Vontade e Representação. Enviou o manuscrito ao editor com os maiores elogios, ali, dizia ele, não estava uma simples reformulação de idéias velhas, mas sim uma altamente coerente estrutura de pensamento original, "claramente inteligível, vigorosa e não sem beleza"; um livro "que dali em diante seria a fonte e motivo para uma centena de outros livros”. Muitos anos depois Schopenhauer estava tão certo de ter dado solução aos problemas principais da Filosofia que pensou em mandar cinzelar em seu anel de sinete uma imagem da Esfinge atirando-se ao abismo como prometera fazer quando seus enigmas fossem solucionados. No entanto, o livro quase não atraiu atenção; o mundo estava pobre e exausto demais para ler o que se dizia sobre sua pobreza e exaustão. Dezesseis anos após sua publicação, Schopenhauer foi informado de que a maior parte da edição fora vendida como papel velho. Schopenhauer colocou-se tão completamente neste livro que suas obras posteriores não são senão comentários do mesmo; Em 1836 publicou um ensaio, Da Vontade na Natureza, que até certo ponto foi incorporado à edição aumentada de O Mundo Como Vontade e Representação que surgiu em 1844.
Em 1841 veio o trabalho Os Dois Problemas Básicos da Ética e em 1851 apareceram dois substanciais volumes Parerga et Paralipomena — literalmente "Acessórios e Remanescentes" .Por esse último, que é a sua obra de mais fácil leitura e que é repleta de sabedoria e espírito, Schopenhauer recebeu, como remuneração total, dez exemplares grátis.
Ele tinha a esperança de ter uma oportunidade de apresentar sua filosofia em uma das grandes universidades da Alemanha, essa oportunidade apareceu em 1822, quando foi convidado a ir para Berlim como docente (privat-docent).
Ele de propósito escolheu para suas conferências as horas exatas em que o então Hegel dava suas aulas. Schopenhauer confiava em que os estudantes encarariam a ele e a Hegel com os olhos da posteridade. Mas os estudantes não podiam se antecipar tanto e Schopenhauer viu-se falando diante de cadeiras vazias.
Em 1831 espalhou-se em Berlim uma epidemia de cólera com isso schopenhauer fugiu para  Frankfurt, onde passou o restante de seus setenta e dois anos.


Apresentação do Mundo como vontade e como representação:

O mundo como vontade e como representação encontra-se dividido em quatro livros.
No Livro I, Shopenhauer trabalha com as questões da teoria do conhecimento, para tal, apresenta um primeiro ponto de vista: a representação submetida ao princípio da razão suficiente (tempo, espaço, causalidade. No Livro II, o mundo, para ele, é tomado como vontade. Neste livro, investiga-se a objetivação da vontade por meio da construção de uma metafísica da natureza. No Livro III, o mundo é retomado como representação, mas agora sob um "segundo ponto de vista" independente do princípio de razão ( tempo, espaço, causalidade), trata-se da idéia platônica, do objeto da arte, por meio da construção de uma metafísica do belo.
no Livro IV, o mundo é retomado como vontade, também a partir de um "segundo ponto de vista" que abandona o "princípio de razão". Nesse livro, investiga-se a prática de vida por meio da construção de uma metafísica da ética.

Trecho do texto de Schopenhauer

O mundo é a minha representação – Esta proposição é uma verdade para todo o ser vivo e pensante, embora só no homem chegue a transformar-se em conhecimento abstrato e refletido. A partir do momento em que é capaz de levá-lo a este estado, pode dizer-se que nasceu nele o espírito filosófico. Possui então a inteira certeza de não conhecer nem um sol nem uma terra, mas apenas olhos que vêem este sol, mãos que tocam esta terra; em uma palavra, ele sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação, na sua relação com um ser que percebe, que é o próprio homem. Se existe uma verdade que se possa afirmar a priori é esta, pois ela exprime o modo de toda a experiência possível e imaginável, conceito muito mais  geral que os de tempo, espaço e causalidade que o implicam. Com efeito, cada um destes conceitos, nos quais reconhecemos formas diversas do principio da razão, apenas é aplicável a uma ordem determinada de representações; a distinção entre sujeito e objeto é, pelo contrário, o modo comum a todas, o único sob o qual se pode conceber uma representação qualquer, abstrata ou intuitiva, racional ou empírica. Nenhuma verdade é portanto mais certa, mais absoluta, mais evidente do que esta: tudo o que existe, existe para o pensamento, isto é, o universo inteiro apenas é objeto em relação a um sujeito, percepção apenas, em relação a um espírito que percebe. Em uma palavra, é pura representação. Esta lei aplica-se naturalmente a todo o presente, a todo o passado e a todo o futuro, àquilo que está longe, tal como aquilo que está perto de nós, visto que ela é verdadeira para o próprio tempo e o próprio espaço, graças aos quais as representações particulares se distinguem  uma das outras. Tudo que o mundo encerra ou pode encerrar está nessa dependência necessária perante o sujeito, e apenas existe para o sujeito. O mundo é portanto representação.”




Interpretação do texto de Schopenhauer

Tudo o que pensamos é uma representação do mundo, mas qual o significado íntimo de tais representações, qual a essência de tudo que vemos?
O mundo segundo Schopenhauer está dividido em duas esferas, tal qual uma é a representação e a outra a vontade, o mundo como representação está ligado ao mundo como vontade,  essa vontade seria um tipo de sentimento, uma essência do mundo existente em todos os seres, independentemente de serem eles possuidores ou não das faculdades cognitivas, esse mundo representativo é o mundo visível e submetido ao espaço,  ao tempo e a causalidade é um outro ponto de vista para o mundo como vontade, contudo,  são dois pontos de vista, duas perspectivas distintas de acesso ao mesmo mundo, absolutamente imanente. Já a representação, neste caso, se daria através da forma como um sujeito percebe o mundo, ela seria a expressão racional da vontade, de modo que a existência desse mundo seria inadmissível sem que houvesse esse sujeito que o percebesse, assim sendo, tudo o que existe, existe apenas para o sujeito, nosso próprio corpo enquanto percebido por outros sujeitos, passa a ser objeto, e dele se abstrai uma representação. Essa estrutura da representação é universal - visto que as condições que nos permitem representar estão presentes no cérebro. O que pode ser individual são os conteúdos intuitivos, bem como nossa reação volitiva as tais representações, pois nosso caráter é individual e único.
   Segundo Schopenhauer, em vez de a razão puramente definir o homem e "apresentar todas as respostas do mundo", são o corpo e a vontade que permitem alcançar e dizer o sentido das coisas, isso se daria porque, para ele, a obtenção do conhecimento iria além da razão, principalmente por ter valorizado um componente novo nas discussões filosóficas: a noção de corpo, ou seja, o sentido das coisas se daria por meio das possibilidades volitivas de cada agente. Com isso ele acredita que a base da formação do nosso conhecimento racional não é racional, já que começa com as sensações corporais. Assim, em vez da racionalidade, agir de forma independente e única, ela torna dependente dos dados corporais.
Portanto, há dois pontos de vista para observar o mundo, sendo as duas perspectivas do sujeito, uma seria representativa e intelectiva, e a outra a partir da vontade.  
Por fim, cada ser humano tem sentimento próprio, não existe sentimento ou saber abstrato que sirva de base para todos os outros sentimentos. Porem existe dois tipos de representação as abstratas e as intuitivas, as abstratas são relacionadas à razão, são concepções, é o que é extraído da experiência do concreto para ser transformado em conceito. Já as representações intuitivas são aquelas que ocorrem no entendimento, as intelecções, ou seja, antes de demonstrar a essência de algo é necessário sentir, logo, há prioridade do intuitivo sobre o abstrato. O papel da representação nessa relação é que ela transporta a vida para o conceito, por ela é que as representações passam de intuitivas para abstratas.






1. Segundo a concepção de representação para Schopenhauer, seria possível duas pessoas distintas enxergar o mundo de uma mesma maneira? Por que?

2.
Qual a relação entre sentir e pensar para Schopenhauer?

3. Por que  a obtenção do conhecimento iria além da razão?



Proposta de atividade

A atividade que será proposta a seguir tem como objetivo expor diferentes percepções a partir de um mesmo objeto como verificado no conceito de representações em Schopenhauer.

  1. Observar a imagem apresentada;
  2. Destacar e justificar o que mais lhe chamou a atenção;
Debater com a turma, de acordo com o que foi lido, como se deu o processo de  percepção.


Dica de filme


 A vida é bela (La vita é bella de Roberto Benigni, 1998)

Nesta obra pode ser analisadas as idéias de otimismo, ilusão e representação para o querer-viver perpassadas pelo filme à luz da idéia de Schopenhauer sobre a Vontade como a verdadeira essência do mundo.


Bibliografia:
SCHOPENHAUER, Arthur. As dores do mundo.

Chevitarese, L, Capítulo 1: O "pensamento único" da Metafísica da

Vontade: as questões da ética e da liberdade.

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001


A ideia de Liberdade em Immanuel Kant

A  ideia de Liberdade em Immanuel Kant
Lisane Irala
Vida e Obra

 Immanuel Kant nasceu no dia 22 de abril de 1724 em uma pequena cidade da Alemanha chamada Konigsberg, era o quarto irmão de uma família de onze filhos, seu pai era um humilde artesão e sua mãe era conhecida como uma mulher profundamente religiosa. Teve uma vida metódica, dedicou-se exclusivamente às atividades intelectuais, não casou nem teve filhos e faleceu em 12 de fevereiro de 1804 sem nunca ter saído da cidade natal.
Começou sua carreira acadêmica ensinando ciências naturais, desenvolveu estudos sobre teologia, física, matemática, geografia, mas destacou-se nos estudos filosóficos. Para Kant filosofia é “a ciência da relação de todo o conhecimento e de todo uso da razão com o fim último da razão humana”[1]. Seu pensamento é norteado por quatro questões fundamentais: 1 – O que posso saber?   2- O que devo fazer? 3- O que posso esperar?    4- O que é o homem? Cada pergunta abrange um campo específico da filosofia kantiana, são eles, respectivamente: metafísico e epistemológico; ético; religioso; e a última questão diz respeito ao objeto da antropologia, ou seja, refere-se ao horizonte a partir de onde e em relação a qual tudo é pensado.
O filósofo alemão é considerado o último pensador do período moderno (Século XV – Século XVIII) e o maior representante do Iluminismo,[2]  destacou-se, sobretudo por ser um filósofo critico.   Suas principais obras foram: Crítica da razão pura (1781), Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788) e Crítica do Juízo (1790).
Os trechos a seguir foram retirados do artigo Resposta à pergunta: Que é “Esclarecimento”? (Aufklärung) publicado em dezembro de 1783 na Revista Berlinische Monatsschrift.


[1] Em sua lógica (Jäsche) (Intr. Cap. III, Ak25).
[2]  Iluminismo -  
*

Texto:
“Pergunta à Resposta: O que é esclarecimento (Aufklärung)?”

Trecho1:

 “Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung].                      
            A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, continuem no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, ect., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da humanidade considera a passagem à maioridade difícil e além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela. Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas quedas. Bata um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro”
           
Trecho 2:

            “Para este esclarecimento [Aufklärung], porém nada mais se exige senão LIBERDADE. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a fazer um uso público de sua razão em todas as questões. Ouço, agora, porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial diz : não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: não raciocinei, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciones, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!) Eis aqui por toda parte a limitação da liberdade. Que limitação, porém, impede o esclarecimento [Aufklärung]? Qual não impede, e até mesmo favorece? Respondo: o uso público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar o esclarecimento [Aufklärung] entre os homens uso.”

Comentário:

“Somos livres para fazermos nossas escolhas?”

            O filósofo alemão inicia o texto definindo dois termos: esclarecimento e menoridade.  - “Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”. - Mas afinal, o que podemos entender por Esclarecimento? O termo filosófico em alemão, Aufklärung, agrega diversas traduções, já foi definido por “iluminismo”, “ilustração”, “filosofia das luzes” e “liberdade”, mas nenhuma delas corresponde de maneira satisfatória, talvez a palavra “esclarecimento” seja a melhor definição, pois traduz o aspecto essencial do termo Aufklärung, que é um processo do uso da razão humana para sair da condição de menoridade. Mas afinal, o que podemos entender pelo que Kant chama de menoridade?  Estaria Kant fazendo referência à todas aquelas crianças e jovens menor de idade?  - “A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo.” – pelo o que podemos perceber o termo menoridade não está associado à idade cronológica do individuo, mas sim à ideia de menor, de ser incapaz, refere-se, portanto a submissão do pensamento, ou seja, a capacidade de sair da condição submissa e praticar o uso do seu entendimento a partir de si próprio sem depender que outro individuo direcione o seu pensamento.        
            A partir disso, nos deparamos com a seguinte questão: se para alcançarmos o esclarecimento precisamos sair dessa condição de menoridade, por que simplesmente não saímos e passamos a pensar por nós mesmo? De acordo com o texto nos somos culpados de estarmos nessa situação e não saímos dela por preguiça e covardia. E agora? Será que somos mesmos tão covardes e preguiçosos? E por medo e indisposição que abrimos mão da nossa liberdade? Segundo Kant, existe outra razão para a menoridade ser mantida, deve-se as ações dos tutores frente aqueles que não ousam saber – “Sapere aude”, pois a incapacidade provocada pela preguiça e covardia de pensar por conta própria, facilita o campo de ação dos tutores, de modo que eles facilmente assumem o controle e ditam-lhe as regras. Afinal, quem são os tutores? Por que eles existem? Precisamos deles?   
Immanuel Kant assume não ser fácil alcançar a maioridade, afinal, os indivíduos não estão acostumados a pensar sozinhos, mesmo ainda, em direção à emancipação, não estão habituados ao movimento livre, por isso não ousam aprender a andar, afinal sentem medo de tropeços e quedas, Kant não descarta a possibilidade de quedas, mas assegura que nos sentiríamos seguros e prontos para fazer uso do próprio entendimento. E afirma que o primeiro-passo para o esclarecimento é a liberdade, e desse modo, dificilmente o público não procure o caminho do conhecimento. O segundo-passo é o uso da razão, que é utilizado por aquele que goza de ilimitada liberdade, é capaz de fazer uso de sua própria razão, falar em seu nome, de maneira que a razão possa ser dirigida para um público amplo e assim realizar o esclarecimento entre os homens. Então, somos livres? Somos esclarecidos? Podemos dizer que o a liberdade e esclarecimento são possíveis?

Atividades

1-      Responda as questões abaixo:

a)      O que podemos entender por “menoridade”?
b)      O homem é ou não culpado por continuar na menoridade?
c)      É um dever sair da menoridade?
d)      É por preguiça e covardia que o homem continua na menoridade?

2-      Atividade em grupo

“Como me divirto?”
A atividade consiste em construir um quadro de programação para o fim de semana, a partir de recortes de jornais e argumentar o por quê das escolhas.

“Eu escolho como me divirto?”
Por que não escolher outros tipos de eventos? O que influência minha escolha? Quem são meus tutores?


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