sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mente Vazia...


Já diz o ditado popular: mente vazia, oficina do diabo. Mas, o que realmente isso quer dizer?
O quadro do pintor espanhol Goya intitulado “O sono da razão produz monstros” reflete muito bem esse pensamento. Quando não utilizamos nossa capacidade intelectual, estamos a mercê de monstros. Estes aparecem em forma de preconceito, de tabus, de credos sem fundamento.
A mente vazia, que muitas vezes é uma vítima da alienação, está sujeita a eterna submissão e interferência desses monstros. Dessa forma, nunca teremos nossos próprios pensamentos, nossas próprias idéias, estes sempre estarão carregados desses preconceitos, tabus. Ou seja, seremos eternamente pessoas alienadas, sem opinião própria e altamente influenciáveis.
A única forma de nos libertar dessa prisão de monstros é possuir uma mente bem informada, ocupa-la com algo que realmente irá valer a pena, desse jeito teremos capacidade de argumentar, saberemos discernir as informações que são relevantes das irrelevantes.

Esta é a interpretação de Sergio Paulo Rouanet sobre o quadro de Goya:

“A coruja tirânica que quer impor sua vontade ao artista é a razão narcísica do hiper-racionalismo. Os morcegos são as larvas e os fantasmas do irracionalismo. Dois animais deficitários, truncados. O morcego tem uma audição aguda, mas é cego. A coruja enxerga de noite, mas não de dia. Falta um terceiro animal na zoologia de Goya, mais completo. Não, não falta. Ele está no canto direito, enorme, olhando fixamente o espectador. É um gato. O gato ouve tudo e tem uma visão diurna e noturna. Sabe dormir e sabe estar acordado. E sabe relacionar-se com o Outro, sem arrogância, ao contrário do seu primo selvagem, o tigre, e sem servilismo, ao contrário do seu inimigo domestico, o cão. É a perfeita alegoria da razão dialógica, da razão que despertou do seu sonho, é atenta a todos os sons e todas as imagens, tanto do mundo de vigília como do mundo onírico, e conversa democraticamente com todas as figuras do Outro, sem insolência e sem humildade”.

ROUANET, Sergio Paulo. A Deusa Razão. In: NOVAES, Adauto (Org.) A Crise da Razão. São Paulo: Companhia das Letras; Brasília, DF: Ministério da Cultura; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Arte, 1996, pp. 298-299).



(Postado por Camila Oliveira)

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